Assim como ocorreria no futuro com Lula, o desenvolvimentista Juscelino
Kubitschek, mais conhecido como 'o presidente bossa-nova', também encontrou enormes
dificuldades para chegar ao poder. Grupos de militares e civis udenistas de
ultra-direita tentaram impedi-lo de tomar posse, mesmo tendo sido regularmente
eleito, além de fazerem intensa campanha contra ele durante todo seu governo. Com Lula o processo foi mais pacífico mas, assim mesmo, houve
resistências e inúmeras ameaças, vocalizadas quase sempre pelo campo
conservador da grande mídia e seus arautos, que diziam alto e bom som que, caso
ele fosse eleito, poderíamos ter um 'retrocesso político', querendo dizer com
isso que poderíamos voltar a ter um golpe militar em pleno mandato civil, como
ocorrera com Jango. A resistência ao exercício do mandato também foi enorme.
João Goulart foi eleito como
vice de Jânio Quadros, com expressiva votação. Na hora em que Jânio,
seu excêntrico companheiro de chapa, renunciou após governar por apenas sete
meses, os militares e grupos de ultra-direita, novamente, tentaram impedir a
posse de Jango, só permitindo-a após impor o parlamentarismo por meio de uma emenda
constitucional (EC nº 4 de 1961). Em 1963, um plebiscito devolveu a Goulart a presidência e a chance de começar
a implantar suas reformas de base. Insatisfeitos, os militares e civis de ultra-direita
(sempre eles), aproveitando que as esquerdas se haviam afastado de Jango,
chamando-o de 'reformista' e largando-o à própria sorte, tomaram o poder.
Quais são as similaridades
com relação ao momento atual? Muitas! Uma delas é que o país começava a
encontrar rumos para se tornar uma grande potência e um país menos desigual. O
Plano de Metas de JK (que prometera fazer-nos avançar 50 anos em 5) era
ambicioso, assim como as reformas propostas por Jango. A juventude, mobilizada
em torno de bandeiras diversas ('o petróleo é nosso', reforma agrária, defesa
da cultura popular, alfabetização, ampliação de direitos trabalhistas, etc.) realizava
grandes protestos como forma de pressionar o sistema e a sociedade. O Congresso,
travado pela oposição sistemática ao governo, dificultava a aprovação de toda e
qualquer lei que pudesse ajudar a aprimorar a vida no país. Havia inflação,
gerada pela instabilidade política permanente forçada e por denúncias oportunistas
de corrupção ou má administração. Greves gerais, como forma de tentar recuperar
essas perdas, ocorriam, criando um cenário difícil de administrar. Abandonado
pela esquerda e acossado pela direita, Jango caiu, ou melhor, foi obrigado a
ceder o poder aos que o exerceriam de forma autoritária durante vinte anos
seguidos.
Recordando esse período, vejo
com apreensão as muitas similaridades e percebo, desanimado, que estamos bem
mais para 64 que para 68 ... mas algo de significativamente diferente ocorre agora: aqueles que hoje nos
governam têm bem mais experiência acumulada que os de antes, não há apoio
externo declarado a golpes e noto que a própria população, em sua enorme
maioria, ainda está cética e espera que isso tudo se resolva de maneira
democrática, sem os prejuízos que tivemos no período anterior.
Flávio B.Prieto da Silva
Monumento "Os Candangos", de Bruno Giorgi, com o Palácio do Planalto ao fundo. "Os que não conseguem se lembrar do passado, estão condenados a repeti-lo" (George Santayana) |
Ótima análise!
ResponderExcluir"Os que não conseguem se lembrar do passado, estão condenados a repeti-lo"
Obrigado, Lua(ra)! Vou tentar escrever mais algum texto falando dos equívocos daquele período, reconhecidos depois como tal, mas repetidos agora.
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