sexta-feira, 28 de junho de 2013

PARA NÃO REPETIRMOS ALGUNS EQUÍVOCOS DOS ANOS 60 - 70


                  Boa parte das análises mais críticas e aprofundadas dos ativismos sociais e políticos dos anos 60 e 70, nos quais houve considerável efervescência de movimentos e atos reivindicatórios aqui no Brasil e em muitos países da região, reconhece a importância desses movimentos e atos, apontando, no entanto, alguns de seus equívocos, erros de cálculo e distorções.

              Um dos erros amplamente reconhecidos, no que diz respeito aos movimentos e ações das vanguardas políticas e culturais da época, foi a pretensão de representarem os anseios e idéias da maioria, ou tentarem ser uma espécie de guias messiânicos iluminados que levariam a maioria 'inculta' ou 'despolitizada' ao um suposto caminho ideal e a atitudes transformadoras da realidade.

               Cada um tem sua lógica, cada um deve falar por si e cada pessoa e grupo tem sua cultura e caminhos próprios. A tentativa de ganhar um consenso com base na imposição da vontade e idéias de vanguardas seria batizada depois de 'vanguardismo', em análises feitas já nos anos 80, com uma perspectiva crítica melhor daquele passado rico, mas conturbado. Será que nos esquecemos disso?

               Outro erro comum apontado era o imediatismo e espontaneísmos cegos: alguns pretendiam mudar tudo em muito pouco tempo, sem medir passos e métodos. Mudanças sociais e econômicas concretas e significativas não ocorrem da noite para o dia, são parte de um prolongado  e conflituoso processo que envolve, inclusive, mudanças pessoais, internas. Muitas vezes, as mudanças tardam não por falta de vontade política, mas sim de elementos essenciais para que ocorram. Tudo era para já, para ontem, mas a estrutura onde tais demandas e embates ocorriam era bastante rígida e pouco permeável a quaisquer  mudanças propostas de modo brusco e mal explicado ou planejado.

                A idéia de revolução também era muito presente, no sentido de impor mudanças radicais às relações sociais, econômicas e políticas existentes. No entanto, um fator não previsto pelas vanguardas de então é que existe, a cada momento, uma correlação dada de forças que não pode ser ignorada ou mudada só pela vontade ou ativismos exacerbados imediatos, mesmo que pareçam gozar de apoio popular em dado momento. A verdadeira revolução socialista, como dizia Gramsci, não se conquista com ativismos explosivos imediatistas, mas é parte de um longo e difícil processo que pode tardar décadas ou até séculos. Também dizia Gramsci que essa revolução teria que ser precedida pela cuidadosa educação das massas para o autogoverno, ou seja, um trabalho educativo emancipador sério e consistente teria que vir necessariamente antes, sob pena de fracasso ou apropriação das lutas e da hegemonia por algum outro grupo tirano. Revolução, portanto, muito mais que atos ou disputas de espaços e consenso, seria um processo educativo contínuo e bem planejado, para obter sucesso verdadeiro. Acho que também nos esquecemos de Gramsci ...

 
"Quando penso no futuro, não me esqueço do passado" (Paulinho da Viola)

"Quem sabe faz a hora ... " (Geraldo Vandré)

"Mas quem faz na hora errada, ou da forma errada, toma!" (F.Prieto)

 
Flávio B.Prieto da Silva
 
Junho de 2013
 

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