Não é sintomático que todo 'ato pacífico' que já começa convocado como 'revolta' ou 'dia nacional de lutas' (o que remete sem dúvida ao CSP-Conlutas, central sindical compartilhada pelo PSTU e pelo PSOL, com participação residual do PCB e PCO) termine em incêndio, pedradas, depredação e vandalismo? Não aceitar o resultado das urnas em 2010 e propor como forma de atuação política a tentativa de rebelar permanentemente parte da população, mas sem declará-lo de modo formal, aberto e claro, é legítimo? É válido? Em um sistema no qual temos um Judiciário com amplos poderes, Ministério Público idem, eleições diretas em todos os níveis com livre candidatura, jornais, revistas, rádios e internet sem censura ou controles estatais, liberdade de expressão artística e intelectual ... isso é ditadura, como dizem os que justificam a sua própria violência sob tal argumento? Se é, eu não sei mais o que foram os vinte anos que passamos sob o tacão pesado dos militares aqui no Brasil. Se tudo é igual, se 'todo es lo mismo', não há nada que possa ser diferente, então.
Antidemocrático, a meu ver, é tentar tomar de assalto o poder, sem saber inclusive o que fazer com ele depois. Ou ainda, tentar, à base de ações empreendidas à margem da institucionalidade, alavancar partidos institucionalizados que querem, sim, e muito, aumentar seu poder a qualquer custo. Quando se escolhe vias antidemocráticas de protesto e manifestação, se anula a possibilidade de um mundo melhor. Nada de bom, nenhum novo sol no horizonte, pode nascer de um parto intencionalmente violento. Ativistas desses partidos, na Internet, aplaudem os manifestantes que radicalizam em cada ato e confrontam a polícia com pedradas, rojões e molotovs. Sugerem a criação aqui de 'Black Blocs', algo como os grupos anarquistas europeus preparados para confrontar a polícia de forma violenta, dispostos a tudo. Em algumas cidades, segundo eles, tais grupos já existem e usam máscaras para ocultar as identidades e não poderem ser responsabilizados por algum ato extremo.
Quem clama pelo direito de alguém e pela legitimidade de um sistema ou governo não deveria usar táticas ilegítimas e anônimas, e não deveria ter dupla face - uma aparente, que se queixa da violência ou desvios do sistema e tenta expor seus excessos, e outra oculta, que provoca ou pratica esses mesmos excessos. Coerência e honestidade é o mínimo que se pede de quem se propõe a lutar por algo.
Flávio B.Prieto da Silva
* Referências: Quem postou em seu twitter ontem sobre a 'necessidade de se criar black blocs' foi Raphael Tsavkko, militante do PSOL. Quem mencionou a proposta de 'derrotar Dilma nas ruas', após perderem as eleições de 2010, foi Ivan Pinheiro, da coligação PCB-PSOL-PSTU. Quem incentiva vários dos protestos mais exaltados via twitter, blogs e facebook são organizações e grupos como o ocupasampa, ocuparj, ocupabh, ocupapoa, ocupasalvador, CIMI, Tortura Nunca Mais-SP, UBES e várias associações de docentes e grêmios das universidades federais e estaduais, muitos dos quais em mãos, hoje, dos partidos mencionados.
Nota explicativa: O texto refere-se especificamente a alguns atos em determinadas capitais e grandes cidades onde manifestantes exaltados, geralmente de partidos emergentes de esquerda, depredavam patrimônio público, promoviam bloqueios de estrada (esses podem ser creditados, em alguns casos, à direita também) e enfrentamentos ostensivos com a polícia que acompanhava marchas e atos ou buscava proteger prédios públicos e vias de circulação. No total das manifestações, no entanto, em sua maioria pacíficas, talvez tenha havido saldo positivo.
É que "ilegítimo" sempre é o outro...
ResponderExcluirEssa mistura de hipocrisia com cinismo dos líderes condutores dessa massa de celerados dá nisso.
O Paulo Henrique Amorim já falou disso... não se põe 50 mil pessoas na rua de forma "pacífica", ou "apartidária". Tanto gente assim na rua é para derrubar o governo.
E durma com um barulho desses...
Concordo, Marco. O método de confronto permanente, incluindo ocupação de lugares públicos ou restritos de maneira forçada é ruim, pois mascara a violência de um lado, que tenta ganhar poder desse modo, denunciando todos os que se coloquem contra si. Se é chamado como 'revolta', não é para ser pacífico ...
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