segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A ATUALIDADE DA OBRA DE ALEJO CARPENTIER

A ATUALIDADE DA OBRA DE A.CARPENTIER (por Flávio B. Prieto)

                   O escritor cubano Alejo Carpentier, considerado um dos pais do realismo mágico e autor de um dos maiores clássicos da literatura latino-americana, ao qual deu o sugestivo título de "O Século das Luzes", examina ali, entre outras coisas, sob a forma de um romance ficcional,  o que foi o processo da Revolução Francesa e seus desdobramentos e consequências em alguns dos rincões mais longínquos do antigo império francês que, na época da virada dos séculos 18 e 19, compreendia territórios continentais na América do Sul e diversas ilhas do Caribe, além de outros espalhados por várias regiões do planeta.

                  Em meio às muitas críticas que tece àquele período político e a seus processos de liberação e mudanças, ele aponta o uso de métodos mais 'assépticos e científicos', porém, mais brutais de matar, como um prenúncio ruim . “Com a Liberdade, chegava ao Novo Mundo a primeira guilhotina.” (em "O Século das Luzes") - com essa frase simples, Carpentier  demonstra o paradoxo da justaposição dos conceitos de liberdade e morte, simbolizados pelo fim apenas formal  (e provisório) da escravidão e do jugo monárquico nas colônias francesas, e pela chegada da guilhotina como método de sentenciamento e execução de desafetos e inimigos políticos.

                  Além dessa crítica em que destaca a fragilidade da vida humana em tais períodos - pois qualquer um poderia, da noite para o dia, transformar-se de executor em executado - ele também aponta a efemeridade e inconsistência da maior parte das utopias, logo esquecidas ou reformadas ao longo de um processo de revoluções que prometia libertar a humanidade e emancipá-la das trevas e das amarras do absolutismo, mas que ao fim e ao cabo mantém as mesmas contradições de regimes anteriores, apenas sob novas formas aparentes e a um custo humano altíssimo.

               Uma dessas utopias seria a ruptura com a religião e o clero tradicionais, substituídos no entanto por outras crenças e instituições como a maçonaria, com hierarquias, rituais e códigos próprios e herméticos, com posterior restauração da igreja como estrutura organizadora social. Outra delas, a abolição definitiva das distinções entre seres humanos e de classes sociais, na realidade inatingida ou intocada pela via da revolução antimonarquista. O lema 'Egalité, Fraternité et Liberté', em nome do qual tantos atos extremos ocorreram, continuaria a ser uma utopia muito distante, na verdade.

                 A atualidade desses seus escritos é tanta, a meu ver, que embora os elabore entre as décadas de 50 e 60 do século passado, reportando-se a acontecimentos históricos de quase dois séculos antes, aborda de forma intencional e consistente e, de certo modo, visionária, as reiteradas e malogradas promessas de 'Mundos Melhores':

"Há que se proteger das palavras bonitas, dos Mundos Melhores criados pelas palavras. Nossa época sucumbe por excesso de palavras. Não existe Terra Prometida a não ser a que o homem pode encontrar em si mesmo." (A.C. - Opus cit.)


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4 comentários:

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