O escritor cubano Alejo
Carpentier, considerado um dos pais do realismo mágico e autor de um dos
maiores clássicos da literatura latino-americana, ao qual deu o sugestivo título
de "O Século das Luzes", examina ali, entre outras coisas, sob a forma
de um romance ficcional, o que foi o
processo da Revolução Francesa e seus desdobramentos e consequências em alguns
dos rincões mais longínquos do antigo império francês que, na época da virada
dos séculos 18 e 19, compreendia territórios continentais na América do Sul e
diversas ilhas do Caribe, além de outros espalhados por várias regiões do
planeta.
Em meio às muitas críticas que tece àquele
período político e a seus processos de liberação e mudanças, ele aponta o uso
de métodos mais 'assépticos e científicos', porém, mais brutais de matar, como
um prenúncio ruim . “Com a Liberdade, chegava ao Novo Mundo a primeira
guilhotina.” (em "O Século das
Luzes") - com essa frase simples, Carpentier demonstra o paradoxo da justaposição dos
conceitos de liberdade e morte, simbolizados pelo fim apenas formal (e provisório) da escravidão e do jugo
monárquico nas colônias francesas, e pela chegada da guilhotina como método de sentenciamento
e execução de desafetos e inimigos políticos.
Além
dessa crítica em que destaca a fragilidade da vida humana em tais períodos -
pois qualquer um poderia, da noite para o dia, transformar-se de executor em
executado - ele também aponta a efemeridade e inconsistência da maior parte das
utopias, logo esquecidas ou reformadas ao longo de um processo de revoluções
que prometia libertar a humanidade e emancipá-la das trevas e das amarras do absolutismo,
mas que ao fim e ao cabo mantém as mesmas contradições de regimes anteriores, apenas
sob novas formas aparentes e a um custo humano altíssimo.
Uma dessas utopias seria a
ruptura com a religião e o clero tradicionais, substituídos no entanto por
outras crenças e instituições como a maçonaria, com hierarquias, rituais e
códigos próprios e herméticos, com posterior restauração da igreja como
estrutura organizadora social. Outra delas, a abolição definitiva das
distinções entre seres humanos e de classes sociais, na realidade inatingida ou
intocada pela via da revolução antimonarquista. O lema 'Egalité, Fraternité et
Liberté', em nome do qual tantos atos extremos ocorreram, continuaria a ser uma
utopia muito distante, na verdade.
A atualidade desses seus escritos
é tanta, a meu ver, que embora os elabore entre as décadas de 50 e 60 do século
passado, reportando-se a acontecimentos históricos de quase dois séculos antes,
aborda de forma intencional e consistente e, de certo modo, visionária, as
reiteradas e malogradas promessas de 'Mundos Melhores':
"Há que se proteger das palavras bonitas, dos Mundos
Melhores criados pelas palavras. Nossa época sucumbe por excesso de palavras.
Não existe Terra Prometida a não ser a que o homem pode encontrar em si
mesmo." (A.C. - Opus cit.)
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Interessante e desconhecido (para mim) autor.
ResponderExcluirFlávio, você tem um e-mail para contato?
Marco
Sim: brbrbr@ig.com.br
ResponderExcluirLi dele apenas "Concerto Barroco", adorei.
ResponderExcluirAbraços!
Legal. Esse eu ainda não li. Li "O Cerco' (El Acoso).
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