DA EFEMERIDADE HUMANA E OUTROS TEMAS
De minha mãe levarei uma grande doçura e um
amor por coisas boas da vida: literatura, cinema, teatro, pintura, artes em geral e boa comida.
Boas relações com todos, afabilidade, tudo isso me reporta a ela – além do fato
de ter nascido em Recife e gostar de tapioca, pitomba, pitanga, carne seca ...
e adorar cinema! Chegou a encenar, além de peças de teatro, alguns filmes alternativos e até um 'caso especial' na TV. Dona Laís foi criada no sudeste, mas conservou esse amor pelas
coisas da terra em que nasceu e onde nasceram e viveram seus antepassados. Voltou
lá poucas vezes, mas nunca se desvencilhou dessas origens. E viveu
oitenta e cinco anos bem vividos, dentro do possível, em um país no qual ainda
são dados golpes de estado para retirar direitos da população e repartir ou
negociar as riquezas nacionais entre bandidos. Deus salve dona Laís e a
conserve ao lado de meu pai Mário!
Quando algo não batia bem ou não
concordava com algo, minha avó materna, dona Sofia, mãe de Laís, dizia com
sabedoria: - Eu passo! Era uma forma de dizer que naquilo ela não se envolvia.
Porém, na atualidade, não dá pra seguir essa postura no que diz respeito à
política, já que se ‘passarmos’ não vai sobrar nada que reclamar depois. Temos
que cobrar essa conta a todo momento e, em especial, agora. Quem tomou o poder
em nome da ética e de direitos não pode agora dizer que não dá pra fazer melhor
e que ter vários políticos ‘ficha-suja’ em postos importantes do governo
postiço é normal. E quem os ajudou – ainda que, talvez, de maneira involuntária
– a chegar lá, promovendo revoltas e mais revoltas também em nome de mais direitos
e mais ética, não pode agora pedir apoio de partidos que até a semana passada
chamava de ‘partidos ficha-suja’. Não é questão de escolher o ‘menos ruim’ ou
‘mais limpinho’, mas sim de ser coerente. E vamos tocando o barco, que ética e
integridade não são privilégios de ninguém.
Voltando ao tema central dessa
crônica pessoal, reparo que apesar de sermos efêmeros, nossas vidas afetam a de
outras pessoas e têm uma importância que transcende nossas individualidades. E
isso é muito bom. Ainda não descobrimos o significado da vida e seu sentido
último, mas com certeza o fato de haver um encadeamento de tudo o que vive e
dos seres humanos entre si é um fato essencial. Até como formas orgânicas,
somos compostos de heranças diversas combinadas e das mesmas substâncias que
compõem o que chamamos de natureza e universo. Tudo isso, sem falar de uma possível dimensão espiritual que faz com que, apesar de não estarem mais presentes, meus pais e avós vivam em espírito em tudo o que tocaram e - é claro, em mim. E o mais, é verso e reverso.
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