quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A VIDA É BREVE ...

A VIDA É BREVE

Um cara morreu. Era mendigo, cadeirante, vivia sob a marquise na calçada em frente à Justiça Federal no centro do Rio de Janeiro. Tinha idade calculável em 70 anos - talvez mais, talvez menos, já que vivia na rua e dormia envolto em papelões. A cachacinha no frio era sua alegria e sonífero. No calor, seria talvez mais uma forma de esquecer que era paraplégico e totalmente pobre. Usava um chapéu rústico e não parecia triste: tinha até uma namorada, ao que consta (uma mulata corpulenta que às vezes partilhava da mesma cama de papel e das comidas que compravam com o dinheiro parco de doações, ou sobras do botequim ao lado de sua localização mais frequente). Era de constituição modesta e seus amigos de bate-papo eram os vigias noturnos dos prédios comerciais da rua. Quando lhe dei uns trocados foi sempre agradecido e só uma vez me solicitou um café. A iniciativa, nas poucas vezes em que interagimos, foi quase sempre minha. Agora me dou conta de que, apesar de ter convivido, em idas e vindas, com sua figura quase lírica, não sei seu nome. Esqueci de perguntar. Só sei que sinto um certo vazio quando passo pelo local onde ele ficava. A vida é breve ... e um tanto quanto injusta, talvez! 

Flávio B.Prieto


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