A VIDA É BREVE
Um cara morreu. Era mendigo,
cadeirante, vivia sob a marquise na calçada em frente à Justiça Federal no
centro do Rio de Janeiro. Tinha idade calculável em 70 anos - talvez mais, talvez menos, já que vivia na rua e dormia envolto em papelões. A cachacinha no frio
era sua alegria e sonífero. No calor, seria talvez mais uma forma de esquecer que
era paraplégico e totalmente pobre. Usava um chapéu rústico e não parecia triste: tinha até uma namorada,
ao que consta (uma mulata corpulenta que às vezes partilhava da mesma cama de
papel e das comidas que compravam com o dinheiro parco de doações, ou sobras do
botequim ao lado de sua localização mais frequente). Era de constituição modesta e seus amigos de bate-papo
eram os vigias noturnos dos prédios comerciais da rua. Quando lhe dei uns
trocados foi sempre agradecido e só uma vez me solicitou um café. A iniciativa, nas
poucas vezes em que interagimos, foi quase sempre minha. Agora me dou conta de que,
apesar de ter convivido, em idas e vindas, com sua figura quase lírica, não sei
seu nome. Esqueci de perguntar. Só sei que sinto um certo vazio quando passo
pelo local onde ele ficava. A vida é breve ... e um tanto quanto injusta, talvez!
Flávio B.Prieto
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