O QUE FAZER? (por Flávio B. Prieto da silva)
Muito embora um governo ilegítimo já
esteja, de maneira velhaca, antecipando o afastamento definitivo da presidenta
oficial popularmente eleita e praticando irregularmente todo tipo de abusos
contra as políticas públicas por ela estabelecidas em benefício dos mais
carentes e da infraestrutura do país, sabemos que a correlação de forças no
Senado – que é quem tem o poder de decidir sobre o afastamento final – é
negativa e deverá confirmar o que uma Câmara com 70% de integrantes judicialmente
investigados decidiu. Então, a pergunta é: O que fazer?
Há várias alternativas em
perspectiva. A primeira delas é resistir do modo que for possível, seja de
maneira pacífica, mais enérgica ou radical. Ambas as possibilidades apresentam uma
debilidade: dada a correlação das forças sociais, também é pouco provável que
consigamos, por meio delas, reverter de fato o ‘impeachment’ e o golpe, bem
como seus efeitos práticos. Outra é não fazer nada. Então, vale perguntar
novamente: O que fazer?
O que temos visto após poucos dias de
implementação do afastamento provisório de Dilma e da iniciativa apressada e,
repito, irregular, de desmontar desde já todo seu programa de governo em
andamento – incluindo as políticas sociais mais importantes e implementar uma
pauta de venda de patrimônio público e atendimento imediato de reivindicações
incisivas de grupos reacionários fundamentalistas (como é o caso da revogação
da lei que garantia a possibilidade do uso de nome social para LGBTs) – é o
governo do golpe colocar os pés pelas mãos.
Propostas para reequilibrar o
orçamento do país e retomar investimentos e crescimento, rechaçadas
veementemente nas últimas semanas por
eles tais como o retorno da CPMF e a criação ou aumento de tributos, agora
aparecem como solução mágica, só que de maneira bem mais brutal e descarada.
Cortes ou redução de direitos dos trabalhadores já surgem também como outro
achado para equilibrar o orçamento, ao mesmo tempo que fatias generosas de
verbas do orçamento deficitário deverão ser alocadas para pagar fornecedores e
incentivar empresários.
Sim, com auxílio da mesma mídia
hegemônica que ajuda a dar e naturalizar esse golpe sórdido e cínico que propõe
‘virar a página’ antes mesmo de sua leitura final, tudo está sendo anunciado e
suavizado para convencer uma população relativamente cética quanto à política, mas
que confia nessa mídia como fonte fidedigna de apreensão e explicação da
realidade mais complexa e geral.
Devem, portanto, ‘emplacar’, apesar
de nocivos à maioria: aumento da idade mínima para aposentadoria, fim ou
redução de programas sociais importantes como Farmácia Popular, SAMU, Bolsa
Família, SUS, Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida, verbas culturais ... tudo
está na lista ou já sendo contingenciado, cortado ou reduzido substancialmente
sem a reação popular que seria de se esperar. Isso sem falar das vendas de
fatias do patrimônio público (especialidade tucana) em massa que já vão sendo
protocolarmente anunciadas, ainda que o governo seja interino. "Anestesia geral, não devemos lutar contra
isso, culpem quem sai ..."
Que alternativas, pergunto novamente,
temos, então, como militância e vanguarda de mobilização democrática à esquerda,
de ações concretas contra o que está posto, sabendo que nossa população é majoritariamente
refratária ao que ocorre na seara política?
Uma delas é deixar acontecer e
mostrar, à medida que acontece, como isso prejudica o país e sua população.
Seria, a grosso modo, como retornar quinze ou vinte anos no tempo e reviver o
que um dos mentores do golpe atual, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
do PSDB, fez durante seus oito anos de mandato – dos quais ele e seu partido
saíram com a popularidade bastante arranhada, a despeito do apoio midiático
expresso e permanente. Mas, se não serviu para educar a população e politizá-la
naquela época, servirá agora?
A segunda é radicalizar: olho por
olho, dente por dente. Se prendem um dos nossos, prenderemos alguém do lado deles.
Se nos baterem ou matarem, faremos o mesmo com eles e, sobretudo, não os
deixaremos governar.
E a terceira é tentar, estando fora
do poder central, educar uma massa de pelo menos 100 milhões de pessoas que ainda
se encontram sob domínio intelectual da direita reacionária e de seus meios de
comunicação e entretenimento, o que leva tempo e custa um esforço imenso e
contínuo.
Com a palavra e ação, a militância e
a população!
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