REDE MUNDIAL E PÓS-MODERNIDADE (por Flávio Prieto)
A chamada rede mundial (ou,
simplesmente, internet) deu espaço a muito ativismo que antes ficaria guardado
ou reprimido por simples preguiça. Revolução similar, consideradas as
diferenças e proporções existentes, deve ter se dado quando se popularizou a telefonia
fixa: milhões de pessoas, em tempo real, discutindo e compartilhando assuntos
que antes só eram discutidos ou compartilhados pessoalmente ou por carta, nesse
caso com o lapso temporal de seu envio e chegada. Voltamos à escrita, mas agora
em tempo real, com o acréscimo de podermos ter também imagens e áudio enviados
separada ou simultaneamente, além de links para outros assuntos. A revolução
cibernética veio para ficar e promete aumentar a intensidade dos debates gerais
e a temperatura do ambiente político.
Mas tal aumento de intensidade e temperatura, no
entanto, não se dá sempre pelo aumento da quantidade de informações pertinentes
e válidas, e sim, com muito maior frequência, pela brutal disseminação de
factoides ou avaliações imprecisas. Hoje, com meia dúzia de acessos a páginas
diversas, todos pensam ser especialistas em tudo ou se sentem tentados a se passar
por tal. Discute-se desde abastecimento de água a física quântica, conveniência
de obras e denúncias de opressões diversas, vida sexual dos sapos e a possível
estrutura político-administrativa das tribos endogâmicas. Tomamos posição ou somos
chamados a fazê-lo com relação a assuntos e ocorrências em locais distantes do
planeta e de nossa realidade concreta, mas que parecem achar-se próximos por
alguma razão afetiva ou ideológica. Tudo urge! Tudo pede por um clique e nos
diz respeito: será que estamos prontos para ser os paladinos do mundo
pós-moderno – ou nos tornamos, de fato, meros artífices da confusão?
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